Select Page
A B C D É F G H Í J K L M N O P Q R S T Ü V W Z

Género teatral cuja representação é feita pelo manuseamento de títeres, movimentados por alguém que se encontra fora do alcance visual do espectador.

Este género de tradição oral, encontra as suas raízes na galeria de personagens truculentas da Commedia dell’Arte, da qual nasce uma das mais importantes figuras do teatro de marionetas, o Pulcinella assim designado em Itália, Punch em Inglaterra, Don Cristóbal em Espanha, Petrouchka na Rússia ou Dom Roberto em Portugal, conforme o gosto popular.

Ao que tudo indica, o teatro de marionetas, também designadas como títeres, bonifrates ou robertos, existiu em quase todas as civilizações e em quase todas as épocas. Na Europa, há registos escritos já no século V A.C (no Symposium do historiador grego Xenofonte). Os registos escritos de outras civilizações são menos antigos, na China, na Índia, em Java e em muitas outras partes do Oriente o teatro de bonecos tem uma tradição antiga que é impossível determinar quando começou. Pode-se afirmar que o teatro de títeres, marionetas ou de bonecos surgiu sempre antes do teatro escrito, ou melhor, surgiu antes da própria escrita. Este género de teatro é um dos instintos mais antigos da espécie humana.

Nos anos 1546 a 1563 o Concílio de Trento proibia as representações com marionetas nas igrejas. Expulsas das igrejas porque ressaltavam a patetice das pessoas, florescem teatros ambulantes de marionetas em todo o mundo helénico.

Em Portugal, este género teatral vai-se destacar pelo agrado que projectaram as óperas de António José da Silva “ O Judeu”, o grande animador literário deste género e a mais importante figura da história da marioneta em Portugal, que apresentou os seus espectáculos na Casa dos Bonecos (Teatro do Bairro alto). Teve em cena a sua 1ª ópera intitulada “Vida de D. Quixote de la Mancha e do Gordo Sancho Pança”, seguindo-se “ A Vida de Esopo”, “Os Encantos de Medeia”,” Anfitrião ou Júpiter e Alcmena”, entre outras. As marionetas continuaram a representar-se no Teatro do Bairro Alto pelo menos até ao terramoto de 1755.

Dedicados a este género de tradição oral, ficaram, entre nós, nomes dos quais somos hoje herdeiros dos seus espólios, histórias, segredos e técnicas, como: Domingos Basto Moura, Manuel Rosado, António Talhinhas o herdeiro da tradição dos Bonecos de Santo Aleixo que resultaram da fusão entre a tradição oitocentista europeia dos teatros de presépio e do teatro de títeres, e António Santos, mais conhecido por “O Sandes”.

É uma forma de teatro artificial e complicada, mas que consegue ser atraente em quase todo o mundo. Há quem afirme que é a forma mais antiga de teatro e que dele surgiu a arte dramática. Não há como comprovar uma afirmação dessas. É pouco provável que todas as formas dramáticas da humanidade tenham sido directamente inspiradas pelo teatro de marionetas, mas está provado que desde os tempos mais remotos o teatro de marionetas e o teatro humano se desenvolveram lado a lado, e que muito provavelmente um influenciou o outro.

O fascínio do teatro de bonecos encontra-se num nível mais profundo. O traço mais marcante de um boneco é que ele é impessoal. Ele é um tipo, não uma personalidade. Na pantomina tradicional britânica, com a sua peça “Punch & Judy”, por exemplo, ninguém se importa de Punch atirar o bebé pela janela e espancar Judy até à morte. Dizem os psicólogos que o efeito dessas peças é catártico, isto é, o instinto agressivo inato da pessoa é libertado por intermédio dessas figuras inanimadas – as marionetas.

Este teatro tradicional, constitui um verdadeiro drama cósmico, nacional, familiar, individual. Ao mesmo tempo, a marioneta dispersa e une o povo, canalizando, por assim dizer, o poder das suas paixões no leito das tradições e lendas comuns.

A marioneta carrega-se, a ela própria, de todas essas forças e acaba por deter um imenso poder mágico. Gasta, envelhecida, passando do Teatro para o antiquário, considere-se que a marioneta conserva a sua virtude secreta. A marioneta soube exprimir aquilo que ninguém teria ousado dizer sem máscara: é heroína dos desejos secretos e dos pensamentos ocultos, é a confissão discreta de si mesmo aos outros e de si a si mesma.

Platão dizia que era em virtude do que há de melhor nos seres que eles são realmente os brinquedos de Deus.

{bibliografia}

António Solmer, Manual de Teatro, (1999); António Sousa Bastos: Dicionário de Teatro, (1908); Maria Palmira Moreira da Silva, Teatro de Bonifrates e de Sombras, (1999); The Oxford Companion to the Theatre, Phyllis Hathnoll, (3ª ed.1967)