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Ciência linguística que estuda as relações das palavras com os objectos por elas designados, ocupando-se de concluir, pelo processo indutivo, quais as leis e de que modo se aplicam aos mesmos.

O termo ‘semantics’ (enquanto ramo da linguística) surge pela primeira vez, em 1894, numa folha da American Philological Association entitulada ‘Reflected meanings: a point in semantics’. A utilização inicial do termo serviu para referir o desenvolvimento e mudança do significado. No entanto, o surgimento da semântica como disciplina autónoma surge, em 1897, data da publicação do Ensaio de Semântica, da autoria de M. Bréal. A reflexão sobre o significado, de facto, sempre suscitou grande interesse pelos linguistas e gramáticos ocidentais. Aristóteles é o primeiro a atribuir o referente ao significado de uma palavra, referente esse que traduz sempre a mesma realidade. J. Locke opõe-se a esta definição, preterindo o reconhecimento do significado com a coisa. Só no século XIX, através de W. Humboldt, o significado passa a ser associado a um elemento da língua. Em oposição a estas teorias, Saussure atribui ao significado um carácter subjectivo e interno: passa a ser encarado como uma entidade pertencente à língua, mudando e definindo-se por ela. Na segunda metade do século XX, os estudos levados a cabo pela semântica modelaram as teorias anteriores, cujos critérios têm a ver sobretudo com a origem das unidades semânticas, as relações entre as mesmas e a disposição semântica dos enunciados.

O estudo da semântica (enquanto estudo do significado) é fundamental para o estudo da comunicação, exigindo esta cada vez mais pesquisa, devido à sua importância na organização social. Assim, o significado, essencial para que as interacções humanas se estabeleçam de forma perfeita, pode assumir diversos aspectos: o conceptual (lógico e cognitivo); o de conotação (referido pelo valor linguístico); o estilístico (perceptível pelas ocorrências sociais); o afectivo (patente nas emoções ou atitudes do escritor/falante); o reflectido (resultante da associação com outro sentido na mesma frase); o de colocação (quando tende a ocorrer noutra palavra); o temático (ilustrativo da maneira como a mensagem é transmitida no que respeita à ordem e à profundidade do assunto explanado).

Como acontece na maior parte das teorias, uma das condições essenciais da semântica resulta da necessidade da mesma ser falsificável para que possa ser empírica. Sendo assim, todas as teorias contrárias devem ser devidamente avaliadas com o objectivo de as falsificar. Para além disso, a teoria semântica deve obedecer a três preceitos: deve compreender a natureza da relação entre os significados; deve saber encontrar ambiguidades, quer em palavras, quer em sentenças; deve explicar as relações que se estabelecem entre palavras e sentenças – no fundo, trata-se das relações de sinonímia, acarretamento, inclusão lógica, contradição, etc. Por outro lado, uma das propriedades gerais que qualquer teoria linguística geral deve apreender consiste no carácter finito do conjunto de sentenças que representa a linguagem. Chomsky foi o primeiro a atribuir esta peculiaridade à linguagem, baseando-se na tarefa censurável do linguista de dar uma mera descrição das sentenças semânticas, sintácticas ou fonológicas. Assim, o mesmo linguista estipulou a possibilidade de um conjunto infinito de objectos ser descrito a partir de um conjunto finito de regras ou enunciados gerais. Quando aplicado à semântica este processo não interfere na atribuição do significado às palavras, porque as linguagens possuem somente um conjunto de palavras cujos significados podem ser referidos numa lista finita.

A teoria semântica descreve e explica o significado dos sons emitidos pelos falantes de qualquer língua. Trata-se de descrições estruturais necessárias e indispensáveis à comunicação oral e escrita. Através dos diversos tipos de semântica, toda a competência linguística é assegurada e sobretudo mantida: a semântica frasal estuda o significado das frases, ou seja, as funções dos seus constituintes; a lexical ocupa-se dos constituintes do léxico, descrevendo as suas relações; a formal analisa sistemas lógicos; a generativa encara a semântica como o princípio da estrutura sintáctica.

Tal como as outras disciplinas linguísticas, a semântica pode ser teórica (se estuda o conceito de significado), histórica (quando analisa o significado diacronicamente), descritiva (sempre que analisa o significado sincronicamente) ou comparativa (quando se opta por relacionar significados). Mas, quando se trata de um termo tão abrangente, como o que caracteriza a semântica, torna-se impossível não referir os ramos em que a mesma se divide. Uma das dessas subdivisões incide na semântica lógica, que estuda o significado, tendo por base a lógica matemática. Passou a ser designada por semântica pura, na continuidade de Carnap, sendo considerado um ramo especializado da lógica moderna.

Em oposição à semântica pura, surge a semântica linguística, a qual pode ser dividida tanto pela sua vertente teórica como pela descritiva. Ao passo que a semântica linguística teórica estuda o significado do ponto de vista da linguagem, já a semântica linguística descritiva tem por objectivo descrever ou investigar o significado das frases e dos enunciados das línguas.

Falar-se-á em semântica gerativa sempre o estudo incide sobre a estrutura interna dos lexemas – juízo defendido por Weinreich (1966) – por reflectirem a estrutura sintáctica das frases e dos sintagmas.

Dado o contínuo estado evolutivo da linguagem nas suas diversas considerações, a semântica diacrónica (ou histórica) estuda de forma atenta as variações linguísticas (social, geográfica e pessoal) e estilísticas, de modo a actualizar a investigação linguística, da qual depende a língua portuguesa. O estudo dos linguistas baseia-se na distinção feita por Sausurre entre a linguística diacrónica e a sincrónica, a a qual estuda a linguagem num determinado período ou época. Assim, os semânticos não só analisam o desenvolvimento e a mudança do significado, mas também a própria etimologia, que muitas vezes se torna essencial para um estudo mais aprofundado do termo em questão.

Uma das grandes dicotomias discutidas pelos linguistas e lógicos associa-se à natureza das regras semânticas e a relação entre as propriedades semânticas e as sintácticas de uma linguagem. Na opinião dos lógicos, a explicação sintáctica de uma linguagem associa-se à designação das formas lógicas de uma linguagem, isto é, a sintaxe das linguagens formais, bem como das linguagens naturais, conduz à formulação de generalizações semânticas. Os linguistas, pelo contrário, defendem a exposição do método estrutural na apresentação dos itens lexicais para formar sentenças como explicação sintáctica. De forma concomitante, a formulação das próprias representações semânticas começou a suscitar maior interesse nos linguistas, passando a rejeitar os princípios que as explicam.

No que diz respeito à análise dos psicólogos, a mesma difere em larga medida. Charles Morris autor de Signs, Language and Behaviour, foca a sua atenção nos signos e no seu significado. C. E. Osgood, G. J. Suci e P. H. Tannenbaum, na obra The Measurement of Meaning, tal como o próprio título indica, tentam ‘medir’ graus Do sentido. No entanto, o linguista interessa-se mais pelos acontecimentos quotidianos e a linguagem neles empregada do que pelas experiências psicológicas marcadas pelo artificialismo. Quer o filósofo quer o linguista recusam a linguagem observável, apesar de recorrerem a modelos aparentemente assentes na matemática. Quando se distingue ciência e filosofia da ciência, as diferenças tornam-se evidentes: o cientista explica os objectos do seu estudo estipulando regras científicas para os mesmos; ao filósofo cabe a tarefa de explicar como as teorias podem ser perceptíveis por si só.

A semântica influencia ainda o estudo da mente humana, no que diz respeito a processos mentais ou cognitivos, que estão intimamente ligados à maneira como classificamos a própria experiência no mundo, através da linguagem.

{bibliografia}

S. Ullmann: Semantics: An Introduction to the Science of Meaning (1964); G. N. Leech: Semantics (1974); Ruth M. Kempson: Semantic Theory (1977); John Lyons: Semantics (1977); J. D. Fodor: Semantics: Theories of Meaning in Generative Grammar (1977); F. R. Palmer: Semantics a new outline (1979); H. C. Campos e M. F. Xavier: Sintaxe e Semântica do Português (1991); Angelika Linke, Markus Nussbaumer, Paul R. Portmann: Studienbuch Linguistik (1996); Monika Schwarz e Jeanette Chur: Semantik (2001).