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Segundo G. Genette, o objecto sobre o qual se debruça a poética é o conjunto de categorias transcendentes ou gerais – tipos de discurso, modos de enunciação, géneros literários, etc. – do qual depende cada texto individual. Com efeito, e num sentido mais amplo, este objecto poderia ser entendido como transtextualidade ou transcendência textual do texto, i. e., como  tudo o que põe o texto em relação, mais ou menos manifesta, com outros textos.

Assim sendo, Genette “intuí” cinco tipos de transtextualidade ou de relações transtextuais passando a enumerá-los segundo uma ordem aproximadamente crescente de abstração, de implicitação e globalidade – à paratextualidade é-lhe atribuído o segundo lugar da lista. A paratextualidade é, portanto, um mecanismo de composição textual que enquadra numa metodologia de abordagem ao texto/escrito literário.

Desta forma, entenda-se por paratextualidade a relação, normalmente menos explícita e mais distante, que, no todo formado por uma obra literária, o texto em si mantêm com o seu paratexto: título, subtítulo, prefácio, epílogo, advertências, prólogo, notas de rodapé e à margem do texto, epigrafe, ilustrações e todos os outros tipos de sinais acessórios que complementam o texto. Por vezes, o paratexto procura um comentário oficial ou oficioso ao qual o leitor mais purista e com menos tendência à erudição externa nem sempre conseguirá alcançar. (consulte-se o verbete relativo a  PARATEXTO)

Ainda que esta questão suscite opiniões diversas, o “avant-texte”, esquemas e projectos prévios da obra, quando conhecidos, podem funcionar também como um elemento paratextual. Genette, a modo de exemplo, foca o caso de Ulysses de James Joyce, obra esta que no momento da sua pré publicação continha títulos nos capítulos que evocavam relações directas com episódios da Odisseia mas que, no momento de publicação foram suprimidos.

{bibliografia}

GENETTE, Gérard. Palimpsestes. La littérature au second degré. Col. Poétique. Paris: Éditions du Seuil, 1982, pp 9-10.