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Termo nuclear da filosofia grega antiga que significa “saber”, “conhecimento”, e que interessa particularmente à teoria literária contemporânea depois das reflexões de Michel Foucault sobre a constituição do discurso. Foucault detém-se sobre o assunto em Les Mots et les choses. Une archaéologie des sciences humaines (1966) e L’Archaéologie du savoir (1969), onde propõe que o termo diga respeito às formas que nos permitem o acesso ao conhecimento num dado momento histórico, ou, por outras palavras, às condições discursivas que constituem uma epistemologia.

Em Les Mots et les choses, Foucault propõe-se fazer uma história ou arqueologia das ciências humanas sem atender ao método tradicional de organização do saber em correspondência aos factos ocorridos num dado período, por dado sujeito e num dado espírito de época. A história do saber que nos propõe é, então, uma história dinâmica, descentralizada e não unitária. Estas características da arqueologia do saber são discerníveis através da análise do discurso. O sujeito do discurso tem uma história recente e tão precária que o seu fim já está próximo: “o homem não é o mais velho problema nem o mais constante que se tem posto ao saber humano. Escolhendo uma cronologia relativamente curta e um espaço geográfico restrito — a cultura europeia desde o século XVI —, pode-se estar certo de que o homem é uma inovação recente. Não foi em tomo dele e dos seus segredos que, por longo tempo,  obscuramente, o saber rondou. De facto, entre todas as mutações que afectaram o saber das coisas e da sua ordem, o saber das identidades, das diferenças, dos caracteres, das equivalências, das palavras — em suma, no meio de todos os episódios desta profunda história do Mesmo -, um único, aquele que começou há um século e meio e que talvez esteja em vias de se encerrar, deixou aparecer a figura do homem. (…) O homem é uma invenção, e uma invenção recente, tal como a arqueologia do nosso pensamento o mostra facilmente. E talvez ela nos indique também o seu próximo fim.” (As Palavras e as Coisas, Edições 70, Lisboa, 1991, p.421). A episteme nunca é definida por Foucault como um termo para uma forma particular de conhecimento, mas como o conjunto das relações epistemológicas entre as ciências humanas.

De notar que a utilização do termo, no sentido que lhe dá Foucault, tem sido atacada desde a década de 1970 como um dos símbolos do estruturalismo. (De notar que a tradução portuguesa de As Palavras e as Coisas é precedida de dois prefácios de Eduardo Lourenço e de Vergílio Ferreira que alinham nesta crítica, refutando, respectivamente, o anti-humanismo e o estruturalismo anti-existencialista de Foucault). Nos últimos textos de Foucault, o sentido estruturalista de episteme é abandonado pelo próprio autor.